Dia 8 – Filme Cebola (mais triste de todos)

Acho que essa é a experiência mais pessoal e emocional que eu tenho com o cinema.

Eu sou um tanto duro na queda pra chorar em filmes. Poucos me fizeram chorar de verdade. Desses poucos esse é o único que conseguiu juntar um tema que já era emocionante por si com um experiência pessoal que veio a tona ao assisti-lo.

Eu não lembro muito bem porque eu fui ver esse filme. Eu sei que eu estava numa universidade com uma amiga. E o filme passava no cinema que tem lá. E dai a gente entrou.

A história é a de um homem na casa dos trinta e poucos que se descobre único tutor de um menino de cerca de quinze anos com problemas mentais. Fruto de uma aventura passageira esse pai nunca teve o menor contato com o menino antes. E o filme conta essas duas coisas. A descoberta da paternidade. E como esse filho ensina esse pai sobre paternidade.

Como a criança tem deficiência esse pai passa a encarar a via crucis dos serviços públicos de saúde.

O filme tem esse potencial todo pro chororô né? Pais arrependidos. Filhos deficientes. Serviços públicos ruins. Pesadíssimo.  Passaria BATIDO por esses temas se não fosse um detalhe.

Aos vinte minutos do filme com metade da dinâmica já estabelecida o menino esta sentado em um canto. Olha pra câmera e sorri.

Meu mundo caiu.

Entrei num choro convulsivo. Um pranto sem fim. Um choro que não tinha lugar e nem hora pra acabar. Não consegui captar absolutamente mais nada do filme. Era um choro assustador até pra mim.

Acontece que quando o menino olhou pra câmera e sorriu eu vi o sorriso da minha irmã. Eu vi o rosto da minha irmã. E eu não lembrava do rosto dela. Não lembrava do sorriso dela. Eram memorias que eu tinha deletado completamente. E dai elas vieram em avalanche. Coisas que eu não sentia emocionalmente desde os 9 anos.

Dai eu cheguei em casa e contei isso pra minha mãe. Contei do filme e da lembrança que ele trouxe da minha irmã. Contei que ela tinha um sorriso doce. E os cabelos da cor dos meus.

A minha mãe com os olhos cheios d´agua disse que se lembrava dela quase todos os dias. E disse que foi bom isso ter acontecido. Por que agora eu não vou mais esquecê-la.

E é bom que eu não a esqueça sabe? Nós não temos um único retrato que seja dela.

Mas agora eu tenho essa memoria. Graças a esse filme.

8 comments on “Dia 8 – Filme Cebola (mais triste de todos)

  1. Eu ia me gabar, porque o diretor é italiano e tal. Aí fui ler os likns antes. E nem vi seu filme nem nenhum outro agora, mas chorei, tô chorando. Pela forma corajosa e delicada com que você partilhou tudo isso. Esse meme tem superado – e muito – o que eu pensava dele. Esse momento aqui, no seu blog, é o maior exemplo disso.

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